Morríghan
Quem de nós, pagãos, não ouviu ao menos uma vez
falar de deuses e heróis como Merlin, Cerridwen, Morríghan, Arthur e outros
tantos exemplos da Mitologia Celta? Quem de nós consegue resistir ao Apelo
Mágico das lendas e mitos que envolvem esses deuses e heróis? E quantos de nós,
ao lermos esses mitos e lendas, conseguimos realmente compreender a sutileza
das magníficas lições e ensinamentos neles contidas? Os preceitos básicos do Xamanismo - conhecer e reintegrar-se aos ciclos da Natureza, acessar suas manifestações e buscar através dessa compreensão a evolução - são os mesmos desde há milhares de anos, e hoje mais e mais pessoas procuram conhecer as técnicas e ensinamentos do xamanismo como caminho espiritual que supra a carência de contato com o Princípio Criador da Terra Viva. Apesar de normalmente associado aos povos indígenas norte-americanos, o termo "Xamã" na verdade é de origem siberiana, e designa o "sacerdote" ou mensageiro que acessa as energias e seres do mundo sutil. No entanto, praticamente todas as culturas ancestrais possuem elementos xamânicos em suas filosofias e religiões. Além das já citadas tribos primitivas da Sibéria e dos nativos norte-americanos, encontramos traços xamânicos entre os bosquímanos africanos, os aborígines australianos, os povos pré-cabralianos do Brasil e, obviamente, entre os antigos Celtas. E é justamente sobre essa forma de Xamanismo que iremos falar.
A cultura Celta é provavelmente a que mais exerce influência
no Movimento Neo-Pagão atual. Além do fascínio causado pelos mitos e lendas
celtas, seus deuses e deusas, seu calendário e seus rituais mágicos são
amplamente utilizados pelas tradições Neo-Pagãs. Contudo, apesar dos fortes
elementos xamânicos existentes na religião dos Celtas, pouca atenção é dada aos
aspectos práticos dessa tradição. Muita atenção tem sido dada às datas do
Calendário e às deidades, mas raramente o tema Xamanismo Celta é abordado com
profundidade, seja aqui no Brasil ou no exterior.
Atualmente, o escritor e mitólogo inglês John Matthews é o maior expoente do Xamanismo Celta. Num trabalho sério e responsável, rico em fundamentos acadêmicos, ele oferece uma visão clara e prática, mas igualmente profunda, do que é o Xamanismo Celta. Trata-se de um Caminho que, ao unir a magia do Xamanismo ao vigor da cultura Celta, cria uma alternativa válida e ao mesmo tempo fascinante para a Busca pelo desenvolvimento pessoal e por um mundo melhor. O Universo do Xamã Celta.
Um dos mais originais e belos pontos do Xamanismo Celta é a
sua cosmovisão, ou seja, o modo como
o universo é descrito. Esta cosmovisão compartilha elementos com muitas outras
religiões de origem indo-européia (Celtas, nórdicos, etc.), como a divisão do
Universo em três esferas, a existência de uma árvore sagrada que liga essas esferas, e por aí vai. No caso
específico do conhecimento oferecido pelo Xamanismo Celta, o Cosmo é dividido
em três: O Mundo Superior, O Mundo Médio e o Mundo Inferior. Interligando esses
três planos, temos uma árvore, Bíle, a árvore da vida ou YggDrassil.
Erguendo seus galhos rumo aos céus, e lançando suas raízes
nas profundezas da terra, a árvore é o verdadeiro Axis Mundi, o Eixo do Mundo, que funciona como ponte entre todos os
planos do Universo. Ao redor de seus galhos, órbita o Sol e a Lua, determinando
assim a passagem do tempo e das estações, tão importantes para a religião celta
(como atesta a Roda do Ano). Em seus galhos temos o Mundo Superior: ao contrário do que se possa imaginar, o Mundo
Superior não está hierarquicamente acima dos demais, é apenas
"geograficamente" superior. É aqui que encontramos as estrelas e os
corpos celestes, que lançam sua influência sobre nós. O Mundo Superior envolve
e é envolvido pela copa da Árvore e seus galhos e ramos. O
Mundo Médio é o nosso mundo, nossa dimensão. É nossa
morada. Para o xamã celta, este é o
ponto de partida. A partir daqui, podemos nos deslocar para cima (Mundo
Superior) ou para baixo (Mundo Inferior), e assim interagir com as criaturas,
deuses, animais totêmicos, espíritos da Natureza - que neles habitam. No Mundo
Médio do Xamanismo Celta podemos perceber claramente os elementos da magia _ O Mundo Médio é representado
por um círculo ao redor do tronco da árvore, onde temos as quatro direções (ou Quatro Ventos) Norte, Sul, Leste e Oeste, que por sua vez estão associadas aos quatro elementos. O quinto é a própria Árvore, essência e símbolo
da Vida, à qual o Xamã Celta se funde em sua Jornada.
Por fim, temos o Mundo
Inferior. Novamente, não se trata de uma inferioridade hierárquica ou de
importância, pelo contrário, pois o Mundo Inferior é a morada dos deuses do
submundo. Ou seja, é aqui que entramos em contato com os Poderes da Terra, suas
forças e energias. No Mundo Inferior (por vezes chamado de Submundo, novamente
sem nenhuma conotação negativa) existe uma nascente, de onde surgem os Sete Rios Da Vida. A Água sempre foi um
símbolo da origem da vida - muito antes da ciência apresentar suas teorias de
que a vida teria surgido das águas primordiais, as mitologias do mundo já viam mares,
oceanos, rios e nascentes como fontes de vida e energia. Por esses sete rios
transitam os animais totêmicos e animais
de poder do mundo do Xamanismo Celta. Essa divisão do universo em três
planos é clara, porém um plano está intimamente ligado ao outro.
Como podemos perceber na mitologia celta, o Mundo Superior e
o Inferior se confundem, e por vezes ambos são chamados de Outro Mundo, em
contraste com o nosso Mundo, o Mundo Médio. E mesmo esta separação não é
definitiva, pois em determinados momentos esses mundos se tocam e se fundem -
como no festival de Samhain, onde se rompem temporariamente as barreiras já
tênues que separam o Outro Mundo de nosso Mundo. O mais interessante, porém, é
que essa visão abarca todo o Universo e, no entanto, nas tradições irlandesas,
o Universo é do tamanho de uma avelã...
Uma clara referência à visão celta do microcosmo contido no macrocosmo. Toda a
vastidão do Universo cabe dentro de uma pequena avelã... Logo a avelã, símbolo
máximo do conhecimento na tradição celta!
O simbolismo é claro: a
avelã é o conhecimento - e é também o universo. Se eu conheço o universo,
conheço tudo! E se conheço tudo, conheço os deuses e deusas, as criaturas e,
principalmente, conheço a mim mesmo!
Assim, com essa visão de três mundos interligados por uma
Árvore (a própria Vida), o Xamã Celta pode começar sua jornada pelos diferentes Planos. Pode ir ao Mundo Superior, para
buscar iluminação e cura, pode descer ao Inferior, para conhecer os mistérios
da Natureza e sempre deve retornar, para por em prática o seu trabalho e seu
aprendizado, diante de Deuses, Deusas,
Animais E Mestres. Certamente o Xamã Celta não embarca em sua Jornada
apenas para satisfazer sua curiosidade ou sede de poder. Na verdade, o que todo
Xamã busca é o Conhecimento, mas mais ainda, a Sabedoria para usar esse conhecimento de modo correto. Todo Xamã é
um aprendiz, mas é também um mestre. Mas mais do que isso, o verdadeiro Xamã é
aquele que intermedia entre nosso mundo e o mundo dos Deuses. É o responsável
pela cura, pessoal, individual e
coletiva. Ao Xamã cabe, ao obter Conhecimento e Sabedoria no Outro Mundo,
utilizá-los aqui para o bem da terra e
do clã. O Xamanismo Celta é um poderoso instrumento para conhecer os deuses, curar a terra e criar
um mundo melhor.
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