sábado, 30 de junho de 2012

A DEUSA







Entre os Mundos



Os encargos da Deusa 1,



Ouça as palavras da grande mãe, que, em tempos idos, era chamada de
Ártemis, Dione, Melusina, Afrodite, Ceridwen, Diana, Arionrhod, Brígida
e por muitos outros nomes:

“ Quando necessitar de alguma coisa, uma vez no mês, e é melhor que seja
 quando a lua estiver cheira, deverá reunir-se em algum local secreto e
adorar o meu espírito que é a rainha de todos os sábios. Você estará
livre da escravidão e, como um sinal de sua liberdade, apresentar-se-á nu
em seus ritos. Cante, festeje, dance, faça música e amor, todos em minha
presença, pois meu é o êxtase do espírito e minha também é a alegria sobre
a terra. Pois minha lei é a do amor para todos os seres. Meu é o segredo que
abre a porta da juventude e minha é a taça do vinho da vida, que é o
caldeirão de Ceridwen, que é o gral sagrado da imortalidade.
Eu concedo a sabedoria do espírito eterno e, além da morte, dou a paz e a
 liberdade e o reencontro com aqueles que se foram antes. Nem tampouco
exijo algum tipo de sacrifício, pois saiba, eu sou a mãe de todas as coisas e
 meu amor é derramado sobre a terra.”

Atente para as palavras da deusa estelar, o pó de cujos pés abrigam-se o sol,
 a lua, as estrelas, os anjos, e cujo corpo envolve o universo:

“ Eu que sou a beleza da terra verde e da lua branca entre as estrelas e
os mistérios da água, invoco seu espírito para que desperte e venha até a mim.
 Pois eu sou o espírito da natureza que dá vida ao universo.
De mim todas as coisas vêm e para mim todas devem retornar.
 Que a adoração a mim esteja no coração que rejubila, pois, saiba, todos
os atos de amor e prazer são meus rituais.
Que haja beleza e força, poder e compaixão, honra e humildade,
júbilo e reverência, dentro de você.
 E você que busca conhecer-me, saiba que a sua procura e ânsia serão
 em vão, a menos que você conheça o mistério: pois se aquilo que busca,
 não se encontrar dentro de você, nunca o achará fora de si.
Saiba, pois, eu estou com você desde o início dos tempos,
e eu sou aquela que é alcançada ao fim do desejo.”



O simbolismo da Deusa tem assumido um poder eletrizante para as
mulheres. A redescoberta de uma antiga civilização femeocentrada
 trouxe
 profundo sentido de orgulho na capacidade de a mulher criar e sustentar
 uma cultura. Ela expôs as falsidades da história patriarcal e propiciou
modelos
 de força e autoridade femininas. Novamente, no mundo atual,
reconhecemos
a Deusa, antiga e primitiva: a primeira das deidades; padroeira da Idade
 da Pedra e suas caçadas e dos primeiros semeadores; sob cuja orientação
os rebanhos foram domesticados, as ervas curativas logo descobertas;
a partir de cuja imagem as primeiras obras de arte foram criadas; para
quem as pedras foram levantadas; que era a inspiração para canções
e poesia.
 Ela é a ponte, pela qual podemos cruzar os abismos dentro de nós
 mesmos, que foram criados pelo condicionamento social,
e nos colocar em contato, novamente, com os nossos potenciais perdidos.
 Ela é o navio, no qual navegamos nas águas do self profundo, explorando os mares
 desconhecidos dentro de nós. Ela é a porta, através da qual
passamos para o futuro.
 Ela é o caldeirão, no qual, os que fomos puxados de um lado para outro,
 podemos cozinhar em fogo brando, até que sejamos novamente um todo.
Ela é a passagem vaginal, através da qual renascemos.

Uma análise comparativa geral, histórica e/ou cultural, da deusa e de
seus símbolos exigiria, por si só, vários volumes e eu não farei tal
tentativa no espaço limitado, tendo em vista, especialmente,
que muito material de boa qualidade já é disponível.

As pessoas, com freqüência, perguntam-me se eu acredito na
 Deusa. Eu respondo: “Você acredita em pedras?” É extremamente
difícil, para a maioria dos ocidentais, captar o conceito de uma
deidade manifesta. A frase “acreditar em” implica que não
podemos conhecer a Deusa, que ela é, de alguma maneira,
inalcançável, incompreensível. Mas, nós não acreditamos em
 pedras, podemos vê-las, tocá-las, cavá-las de nosso jardim ou
impedir que crianças atirem-nas umas nas outras. Nós as conhecemos;
ligamo-nos a elas! Na Arte, não acreditamos na Deusa:
ligamo-nos a Ela, através da lua, das estrelas, do mar, da terra,
 das árvores,  animais e outros seres humanos, através de nós mesmos.
Ela está aqui. Ela está dentro de todos nós. Ela é o círculo pleno:
 terra, ar, fogo, água  e essência; corpo mente espírito,
emoções, transformações.

A Deusa é a primeira em toda a terra, o mistério, a mãe que alimenta e dá
 toda a vida. Ela é o poder da fertilidade e geração; o útero e também a
sepultura que recebe, o poder da morte. Tudo vem dela, tudo retorna para ela.
Sendo terra, também é a vida vegetal; as árvores, as ervas e os grãos que s
ustentam a vida. Ela é o corpo e o corpo é sagrado. Útero, seios, barriga, boca, vagina, pênis, osso e sangue; nenhuma parte  do corpo é impura, nenhum
aspecto dos processos vitais é maculado por qualquer conceito de pecado. Nascimento, morte e decadência, são partes igualmente sagradas do ciclo.
Se estivermos comendo, dormindo, fazendo amor ou eliminando excessos
do corpo, estamos manifestando a deusa.

A Deusa da Terra é também o ar e o céu, a celestial Rainha do Céu,
A Deusa Estelar, regente de todas as coisas sensíveis mas invisíveis:
 do conhecimento, da mente e da intuição. Ela é a musa, que desperta
todas as criações do espírito humano. Ela é a amante cósmica,
a estrela da manhã e do entardecer, Vênus que surge nos momentos
 de amor. Bela e irradiante, ela jamais pode ser dominada ou
penetrada; a mente é conduzida cada
 vez mais adiante na ânsia de conhecer o desconhecido, de falar
 o inexprimível. Ela é a inspiração que vem no momento da introspecção.

A Deusa Celestial é vista como a lua, que está associada aos ciclos mensais de sangramento e fertilidade das mulheres. A mulher é a lua terrena; a lua é o ovo
celestial, vagando no útero do céu, cujo sangue menstrual é a chuva que fertiliza e
o orvalho que refresca; aquela que governa as marés dos oceanos, o primeiro
ventre da vida na terra. Portanto, a lua é também a Senhora das Águas: das ondas
 do mar, correntes, nascentes, dos rios que são as artérias da Mãe Terra; dos lagos,
poços profundos e lagoas escondidas, dos sentimentos e emoções, que nos tomam
como ondas do mar.


A Deusa da Lua possui três aspectos: crescente é a donzela; cheia, é a Mãe;
minguante, é a anciã. Parte do treinamento de cada iniciado implica períodos de meditação sobre a Deusa em seus vários aspectos.


1,  O Papel da Deusa foi escrito por Doreen Valiente. Ele aparece sob diversas formas; nesta versão, fiz alterações ligeiras na linguagem. Ele é muitissimo apreciado pelos bruxos por expressar perfeitamente nosso conceito da Deusa.

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