segunda-feira, 21 de maio de 2012

PÃ!!!





INVOCAÇÃO A PÃ
 
Por MARK SIMOS
 
 
            Se o corvo seus cabelos tingir
 
E sentar-se um rei escarlate
 
Na escada inclinada do coração
 
Então, oh, os espetáculos que lá você verá...
 
O cristal se quebrando
 
Sob um penetrante olhar verde-escuro,
 
 
 
Um penetrante olhar verde-escuro, de olhos fogosos,
 
De lagoas do mais profundo âmbar...
 
Cerque seu castelo de urze branca,
 
Ainda assim Pã encontrará seus aposentos.
 
 
 
Encha-o até a borda, não diga quando,
 
Beba até fartar-se e beba novamente,
 
Ouça o mar tonitruando.
 
Encha-o até a borda, não diga quando,
 
É Pã que continua servindo...
 
 
 
Mãos de nozes, os olhos de um urso...
 
Aquele que busca as suas tristezas
 
Poderá achar a parte do leão.
 
Com o mesmo fôlego ele atrai e avisa...
 
O fogo que mantém o frio à distância
 
É o mesmo fogo que queima.
 
 
 
A chama que arde, a canção que mata,
 
Quando você ouve o que ela está dizendo...
 
Deixe o pânico perseguir-vos no labirinto,
 
Pois Pã está somente se divertindo.
 
 
 
Encha-o até a borda, não diga quando,
 
Beba até fartar-se e beba novamente,
 
Ouça o mar tonitruando.
 
Encha-o até a borda, não diga quando,
 
É Pã que continua servindo.
 
 
 
Observador misterioso com sobrancelhas emaranhadas
 
Põe seu dedo em seus lábios,
 
Não mais ouviremos juras,
 
De promessas que jamais guardaremos,
 
Nem do sonho secreto
 
Que foge quando despertamos do sono.
 
 
 
Quando do sono despertamos,
 
E os nossos olhos esfregamos,
 
Para impedir que as lágrimas salgadas escorram,
 
Você pode cobrir os seus ouvidos para abafar os seus brados...
 
 
 
Entretanto é Pã que continua simplesmente chamando. 

A imagem do Deus Galhudo em Feitiçaria é radicalmente diferente de qualquer
outra imagem de masculinidade em nossa cultura. Ela é difícil de ser
compreendida, pois ele não se encaixa em nenhum dos estereótipos esperados, nem
aqueles referentes ao homem "macho" nem às imagens invertidas daqueles que,
deliberadamente, buscam a efeminação. Ele é suave, carinhoso e encorajador,
mas é também o Caçador. Ele é o Deus Moribundo, mas a sua morte está sempre a
serviço da força vital. Ele é sexualidade indomada, mas sexualidade como um
poder profundo, sagrado e unificador. Ele é o poder do sentimento e a imagem do
que os homens poderiam ser, se estivessem libertos das correntes da cultura
patriarcal.
 

A imagem do Deus Galhudo foi deliberadamente pervertida pela igreja medieval
para a imagem do diabo cristão. As bruxas não acreditam ou cultuam o diabo -
elas o consideram como um conceito próprio do cristianismo. O Deus das Bruxas é
sexual, mas a sexualidade é percebida como sagrada, não como obscena ou
blasfema. Nosso deus possui chifres, mas estes são as meias-luas que crescem e
minguam da Deusa da Lua e o símbolo da vitalidade animal. Em alguns aspectos,
ele é negro, não por ser horrendo ou assustador, mas porque a escuridão e a
noite são períodos de poder e parte dos ciclos temporais.Sempre existiram tradições
 da Arte nas quais ao deus é concedido reconhecimento
limitado. Na Arte, os mistérios femininos e os mistérios masculinos podem ser
desempenhados separadamente. Mas, na maioria das tradições de bruxas, o Deus
é visto como a outra metade da Deusa e muitos dos ritos e festividades são
dedicados a ele e a ela.
 
No movimento feminino, a Feitiçaria diânica/separatista tornou-se moda e algumas mulheres 
podem ter dificuldades em compreender porque uma feminista se preocuparia com o Deus Galhudo. 
No entanto, existem poucas mulheres - se, de fato, existem - cujas vidas não estão ligadas aos homens, 
senão sexual e emocionalmente, então economicamente. O Deus Galhudo representa qualidades masculinas 
poderosas e positivas que derivam de fontes mais profundas que estereótipos e o aleijamento emocional e 
violento dos homens em nossa sociedade.Se o homem tivesse sido criado à imagem do Deus Galhudo, estaria 
livre para ser indomado sem ser cruel, irado sem ser violento, sexual sem ser coercivo,espiritual sem ser
assexuado e capaz de amar verdadeiramente. As sereias, que são a Deusa, cantariam para ele.  


Para os homens, o Deus é a imagem do poder interior e da potência que vai além
do sexual. Ele é o self não dividido, no qual a mente não é cindida do corpo,
nem o espírito da carne. Unidos, ambos podem funcionar ao máximo do poder
criativo e emocional.
 
Em nossa cultura, ensina-se aos homens que a masculinidade exige ausência de
sentimentos. Eles são condicionados a agir de maneira militar; a castrar as
emoções e ignorar a mensagem de seus corpos; a negar o desconforto físico, a dor
e o medo, a fim de lutar e dominar com maior eficácia. Isso assume foros de
verdade independentemente de o campo de batalha ser o da guerra, um quarto ou um
escritório.



O Deus incorpora o poder do sentimento. Seus chifres animais representam a
verdade da emoção não mascarada, a qual não busca agradar a nenhum senhor. Ele é
indômito. Mas, sentimentos indomados são muito diferentes de violência
sancionada. O deus é a força da vida, o ciclo da vida. Ele permanece dentro da
órbita da deusa; seu poder está sempre a serviço da vida.
 
O Deus das Bruxas é o Deus do amor. Esse amor inclui a sexualidade, que também é
plenamente selvagem e indomada, assim como suave e carinhosa. Sua sexualidade é
plenamente sentida, em um contexto onde o desejo sexual é sagrado, não somente
por ser o meio pelo qual a vida é procriada mas, também, porque ele é o meio
através do qual nossas próprias vidas são mais profundas e extaticamente
realizadas. Em Feitiçaria, o sexo é um sacramento, sinal externo de uma graça
interior. Essa graça é a profunda ligação e o reconhecimento da totalidade da
outra pessoa. Em essência, não se limita ao ato físico, é uma troca de energia,
um alimentar sutil entre as pessoas. Através da ligação com o outro, ligamo-nos
ao todo.

Na Arte, a cisão entre mente e corpo, carne e espírito, é curada. Os homens são
livres para serem espirituais sem serem assexuados, pois Deus e Deusa incorporam
a força profundamente tocante da sexualidade apaixonadamente vivida. Eles podem
unir-se a seus sentimentos verdadeiros, suas necessidades, suas fraquezas, assim
como a suas forças. Os rituais são vigorosos, físicos, energéticos e catárticos.
O êxtase e a energia selvagem e indomada são revestidos de um valor espiritual,
não relegados ao campo de futebol ou ao bar da esquina.
O Deus está dentro e fora. Como a Deusa, ele é invocado de várias maneiras: com
canções, cânticos, tambores, danças, um poema sussurrado, um grito selvagem. De
qualquer maneira que o invocamos, ele desperta dentro de nós: