segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

                                                                        
                                                                     A RODA DO ANO


Os quatro outros festivais (Mabon, Yule, Ostara e Litha) - os Pequenos Sabás - parecem ser simplesmente um amálgama de diversas tradições de ritos equinociais e solsticiais, com elementos tirados de ritos nórdicos e de outras tribos bárbaras da antiga Europa, bem como de outras tradições não-européias, como a própria Páscoa judia. Como já citamos, festivais marcando os equinócios e solstícios são ritos cuja antiguidade é imensa, e são comuns a quase todas as sociedades agrícolas ao redor do mundo.

Para sermos exatos, é difícil precisar em que momento começa a haver uma sistematização desses festivais dentro da Wicca. No primeiro livro de Gardner, "Bruxaria Hoje", há referências aos sabás mais ou menos nos moldes das "reuniões de bruxas" descritas pela Inquisição, mas apenas uma breve alusão a uma cerimônia específica, em verdade um Yule, ao qual o autor teria assistido. Obras posteriores, no entanto, como o "Oito Sabás Para Bruxas", do casal Farrar, já trazem uma imagem acabada do que seriam essas cerimônias, o que reflete certamente a forma como as ideias de Gardner foram sendo consolidadas e outras fontes folclóricas foram incorporadas à doutrina, ao longo das décadas de 1960 e 1970, principalmente.

De qualquer maneira, vale ressaltar que, embora dentro da Wicca haja uma tentativa de resgate dos valores originais associados a essas cerimônias, elas não são, de forma alguma, estranhas ao nosso próprio calendário civil ou mesmo àquelas datas que, comumente, associamos à cristandade. Pelo contrário, tanto os sabás quanto as festas religiosas que se integraram à tradição cultural do Ocidente possuem uma base folclórica comum e significados semelhantes. O que ocorreu, na realidade, foi uma incorporação ou ainda uma "releitura" sob a ótica cristã, de datas, ritos e festividades "pagãs", como veremos a seguir.

 
                                                                      Litha, o Solstício de Verão
                                                                          
                                                                              21 de dezembro

            O dia mais longo do ano marca o auge do poderio do sol. Em Litha, o Deus atinge a maturidade e prenuncia o seu declínio, ao passo que a Deusa, grávida, assume a face da futura mãe. Como no solstício de inverno, o solstício de verão marca uma pausa, um momento de repouso entre as duas metades da Roda do Ano. Aqui, o período não é o repouso forçado pelo inverno, mas sim o repouso prazeroso do verão, o intervalo entre o plantio e a colheita. É de se notar que até hoje, se considerarmos os calendários escolares, teremos férias justamente nesses dois períodos (auge do inverno e auge do verão).

Segundo uma das tradições ligadas ao solstício de verão, esse seria o momento em que o Rei do Carvalho, aspecto do Deus que reinou durante a primeira metade do ano (a fase de crescimento, ou seja, do nascimento à maturidade), seria derrotado e substituído pelo Rei do Azevinho, que governará a outra metade (da maturidade à morte). Há aqui um interessante sincretismo apontado por Robert Graves, conforme citado por Stewart Farrar11: ocorrendo sempre em torno de 20 de junho, no hemisfério norte, a data deste sabá praticamente coincide com o Dia de São João Batista. É interessante notar que, segundo a mitologia cristã, João Batista, o feroz pregador, foi substituído em sua missão por "aquele que veio depois dele", ou seja, o sábio e manso Jesus. Eis aqui, portanto, uma assimilação ou um notável paralelo na doutrina cristã da derrota do impetuoso Rei do Carvalho pelo sábio Rei do Azevinho.