A RODA DO ANO
Os
quatro outros festivais (Mabon, Yule, Ostara e Litha) - os Pequenos Sabás -
parecem ser simplesmente um amálgama de diversas tradições de ritos equinociais
e solsticiais, com elementos tirados de ritos nórdicos e de outras tribos bárbaras
da antiga Europa, bem como de outras tradições não-européias, como a própria
Páscoa judia. Como já citamos, festivais marcando os equinócios e solstícios
são ritos cuja antiguidade é imensa, e são comuns a quase todas as sociedades
agrícolas ao redor do mundo.
Para
sermos exatos, é difícil precisar em que momento começa a haver uma
sistematização desses festivais dentro da Wicca. No primeiro livro de Gardner,
"Bruxaria Hoje", há referências aos sabás mais ou menos nos moldes
das "reuniões de bruxas" descritas pela Inquisição, mas apenas uma
breve alusão a uma cerimônia específica, em verdade um Yule, ao qual o autor
teria assistido. Obras posteriores, no entanto, como o "Oito Sabás Para
Bruxas", do casal Farrar, já trazem uma imagem acabada do que seriam essas
cerimônias, o que reflete certamente a forma como as ideias de Gardner foram
sendo consolidadas e outras fontes folclóricas foram incorporadas à doutrina,
ao longo das décadas de 1960 e 1970, principalmente.
De
qualquer maneira, vale ressaltar que, embora dentro da Wicca haja uma tentativa
de resgate dos valores originais associados a essas cerimônias, elas não são,
de forma alguma, estranhas ao nosso próprio calendário civil ou mesmo àquelas
datas que, comumente, associamos à cristandade. Pelo contrário, tanto os sabás
quanto as festas religiosas que se integraram à tradição cultural do Ocidente
possuem uma base folclórica comum e significados semelhantes. O que ocorreu, na
realidade, foi uma incorporação ou ainda uma "releitura" sob a ótica
cristã, de datas, ritos e festividades "pagãs", como veremos a
seguir.
Litha, o Solstício de
Verão
21 de dezembro
O
dia mais longo do ano marca o auge do poderio do sol. Em Litha, o Deus atinge a
maturidade e prenuncia o seu declínio, ao passo que a Deusa, grávida, assume a
face da futura mãe. Como no solstício de inverno, o solstício de verão marca
uma pausa, um momento de repouso entre as duas metades da Roda do Ano. Aqui, o
período não é o repouso forçado pelo inverno, mas sim o repouso prazeroso do
verão, o intervalo entre o plantio e a colheita. É de se notar que até hoje, se
considerarmos os calendários escolares, teremos férias justamente nesses dois
períodos (auge do inverno e auge do verão).
Segundo
uma das tradições ligadas ao solstício de verão, esse seria o momento em que o
Rei do Carvalho, aspecto do Deus que reinou durante a primeira metade do ano (a
fase de crescimento, ou seja, do nascimento à maturidade), seria derrotado e
substituído pelo Rei do Azevinho, que governará a outra metade (da maturidade à
morte). Há aqui um interessante sincretismo apontado por Robert Graves,
conforme citado por Stewart Farrar11: ocorrendo sempre em torno de 20 de junho,
no hemisfério norte, a data deste sabá praticamente coincide com o Dia de São
João Batista. É interessante notar que, segundo a mitologia cristã, João
Batista, o feroz pregador, foi substituído em sua missão por "aquele que
veio depois dele", ou seja, o sábio e manso Jesus. Eis aqui, portanto, uma
assimilação ou um notável paralelo na doutrina cristã da derrota do impetuoso
Rei do Carvalho pelo sábio Rei do Azevinho.